Algumas considerações sobre o D.M.T

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A dimetiltriptamina é sintetizada em duas etapas enzimáticas a partir do triptofano, aminoácido encontrado em todas as formas de vida. Em nosso código genético ele é o único aminoácido que não é degenerado, isto é, só existe um códon capaz de sintetizá-lo. Embora ocorra desde as bactérias e algas até as plantas e nós, não sabemos a função da DMT nos seres vivos. Em nós suspeitamos que produza os sonhos, e que no momento da morte liberemos imensas quantidades desta substância através da glândula pineal. A última experiência de um ser humano é, portanto, semelhante a aquela que podemos obter através de altas doses de plantas e fungos que contenham esta molécula.
        Não só desconhecemos a função da DMT, como também existem uma série de fatos ainda inexplicados acerca de sua ocorrência na natureza. O cogumelo Psilocybe cubensis contém a 4-PO-DMT. Esta é a única molécula encontrada na natureza que contém um grupo PO na quarta posição, sem antecessores nem sucessores. Além disso, não temos um registro fóssil de fungos mais antigo do que quarenta milhões de anos, embora tenhamos fósseis de seres mais sensíveis com até um bilhão de anos, como invertebrados marinhos. Tanto a molécula encontrado no cogumelo, como a própria espécie constituem um enigma evolutivo.
        Podemos cogitar diversas explicações. A maior parte dos xamãs que usam DMT concordam que ela nós dá acesso ao mundo que existe após a morte. Desta forma, talvez esta molécula nos seres vivos seja o fio da vida, isto é, o elo que liga a alma destes seres ( ou seja lá o nome que se queira dar a aquilo que resta de nós após a morte ) ao seu corpo. Logo estas plantas parecem ter tido sua evolução orientada por seres desencarnados, mais avançados que nós, para que pudessem intervir na situação terrestre em momentos críticos. Elas estiveram aqui no momento de construção da civilização, e agora retornam enquanto ela encontra perigo de colapso.
Não só a DMT, como também outras substâncias possuem ocorrência e estrutura atípicas. O THC é o único álcool poli-hídrico psicodélico conhecido pela ciência. A Salvia Divinorum só pode ser encontrada em uma pequena região do México, Sierra Mazateca, e não conhecemos nada sobre sua evolução. Os próprios nativos da região dizem ter descoberto a planta somente após a chegada dos conquistadores espanhóis, e não possuem nome para ela em sua língua. O nome dado foi “ojos de la pastora” embora não exista nenhuma pastora no imaginário cristão ou nativo da região. E uma planta como a Argyreia nervosa, que é ativa após a ingestão de poucas sementes, não foi descoberta pelos nativos de sua região e não tem histórico de uso. Outra planta, o peyote, foi descoberto pelos nativos norte-americanos a menos de 500 anos.
Da mesma forma, apesar da ocorrência de cogumelos na Europa, os relatos de seus efeitos até o século 20 são escassos ou inexistentes. Nem mesmo os xamãs da América do Norte usaram cogumelos, apesar de sua ocorrência ser tão grande quanto aquela na região onde habitaram os maias.
        Esta série de fatos intrigantes nos leva a admitir que plantas de poder não obedecem as leis evolutivas que explicam a ocorrência de plantas comuns. Sabemos da abundância destas plantas na região da Amazônia, e de sua escassez sem nenhum motivo aparente nas florestas tropicais do Pacífico. Sua distribuição planetária, as substâncias que contém e razões das reações que despertaram entre populações humanas permanecem no momento como respeitáveis enigmas



Psilocybe cubensis - O cogumelo Mágico

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Psilocybe cubensis (anteriormente designada por Stropharia cubensis) é uma espécie de cogumelo alucinogénio, mundialmente conhecido, que apresenta como principais princípios ativos a psilocibina e a psilocina, embora possua em baixas quantidades outros alcalóides, como a norbaeocistina ou a baeocistina, cuja ação no sistema nervoso humano é pouco conhecida. São cogumelos de pequeno porte, geralmente apresentando características que os tornam facilmente reconhecíveis.

Taxonomia e Nomeação
Cogumelos Psilocybe cubensisOs cogumelos Psilocybe cubensis foram descritos e documentados pela primeira vez em Cuba[1] pelo micologista norte-americano Franklin Sumner Earle, o qual deu à espécie o nome deStropharia cubensis. Em 1907, a mesma espécie foi identificada como Naematoloma caerulescens na região de Tonkin, região norte do Vietnã, pelo micologista e farmacologista francêsNarcisse Théophile Patouillard.[2]
Em 1941, a então espécie foi chamada de Stropharia cyanescens por William Alphonso Murrill, na Flórida.[3] Após sucessivas alterações taxonómicas, a espécie foi integrada no géneroPsilocybe, designação que entrou no léxico comum com o crescimento da popularidade da espécie.
nome genérico Psilocybe foi derivado das raízes gregas psilos (ψιλος) e kub' (κυβη), que podem ser traduzidas como cabeça careca. O epíteto específico cubensis, como o próprio nome sugere, significa proveniente de Cuba, local em que os primeiros espécimes do fungo foram catalogadas e descritas por Franklin Sumner Earle.

História

O uso de enteógenos e drogas psicodélicas ou alucinogénias vem acompanhando o gênero humano desde o seu surgimento, e influenciando a formação de sua consciência e de seus modelos sociais desde os primórdios da espécie. Partindo do descobrimento das substâncias com poderes alteradores de consciência, passando pelo seu uso pela contra-cultura na década de 1960 até os dias atuais, com o advento de pesquisas que envolvem as potencialidades de cura dessas drogas, que vêm dando um destaque a esses compostos.

Américas

A documentação das primeiras ocorrências do uso de cogumelos do gênero Psilocybe nas Américas ocorreu em escavações de templos Maias, onde foram encontradas pequenas estátuas esculpidas em rocha que possuíam o formato de um cogumelo. Esses fungos possuíam tamanha importância para os povos da América que foram transformados em um sacramento, o qual recebeu o nome de teonanacatl na linguagem asteca. Tudo indica que o uso religioso desses cogumelos iniciou-se há cerca de 2000 anos, acompanhando os povosastecas e maias em seus rituais e estruturas sociais.
No século XVI, o religioso franciscano Bernardino de Sahagún, acompanhando uma das expedições do explorador Hernán Cortéz realizadas no território asteca, observou o uso ritualístico dos cogumelos Psilocybe pelos povos nativos.[4] É provável que a espécie empregada nos rituais era a Psilocybe mexicana, que é comum em pastos e pântanos da região do atualMéxico, que coincide com a região ocupada pelo império Asteca no período da exploração espanhola.

Egito

Existem registros de diversos materiais provenientes do território egípcio que possuem referências aos cogumelos enteógenos, tais como o Amanita muscaria e o Psilocybe cubensis.
Figura 1
Figura 2
É possível notar a semelhança entre a primórdia de um corpo de frutificação de um cogumelo Psilocybe cubensis (Fig. 1A) e duas coroas brancas egípcias anômalas, também chamadas de hedjeti. (Fig 1B, C e D). Além disso, a denominada Coroa Tripla, ou hemhe, (Fig 2B) pode ser assemelhada fortemente à uma geração de cogumelos enteógenos, agrupados no seu nascimento. (Fig 2ª e C)..
Acredita-se que os faraós possuíam uma forte influência religiosa ocasionada, da mesma forma que com os povos nativos americanos, pelas visões provocadas pelo uso desses cogumelos psicodélicos. O Faraó poderia possuir uma autoridade elevada que garantia o direito de consumir os cogumelos, adquirindo uma possível sabedoria espiritual, condizente com os conceitos de divindade humana apregoados à sua pessoa.

Cultura

Para os povos centro-americanos e mesoamericanos, especialmente os Maias e os Astecas, os cogumelos psicoativos possuíam um destaque importante para a consolidação social e religiosa desses povos, podendo ser considerados como um dos pilares centrais da maioria dos rituais e iniciações que eram praticados.
Os cogumelos Psilocybe cubensis inspiraram o surgimento de diversas divindades ligadas à cultura desse fungo. Podemos destacar como principais claramente ligadas, o Deus asteca Xochipilli, o qual possuía em seu corpo entalhes ou estampas que exibiam o corpo de frutificação desses cogumelos. Na imagem, podemos visualizar a presença de outras espécies de enteógenos, com destaque para os píleos de cogumelos logo abaixo da orelha da estátua.
Os astecas se referiam à esses cogumelos como teonanacatyl, ou carne-dos-deuses. Já o povo mazateca denominava-os como nits-si-tho, em que nitsi é uma espécie de diminutivo carinhoso, e o restante do vocábulo pode ser interpretado como “aquele que brota”.
Diversas pessoas dedicaram suas vidas para o estudo da relação entre esses fungos e a cultura humana. Como principais destaques, temos Maria Sabina, considerada a sábia dos cogumelos sagrados. Esta acabou por inserir-se nos rituais tradicionais da cultura americana, e foi uma xamã que contribui grandemente para o crescimento da inserção da cultura do cogumelo na sociedade moderna ocidental. Como personalidades americanas também temos Timothy Learry e Terence McKeena, pais do psicodelismo e do estudo dos princípios terapêuticos do uso de enteógenos na sociedade atual.

Religião
É comum que os usuários de substâncias alteradoras da consciência, como a Psilocibina e a Psilocina, relatem que durante o efeito das substâncias, foi comum o surgimento de visões de grande significância para o indivíduo. Tais visões eram tidas para os xamãs e religiosos tradicionais como possíveis predições para o futuro do povo e da cultura local. Bernardo de Sahagún relata em uma de suas viagens uma das cerimônias na qual o cogumelo era utilizado[4]. Nessa, os líderes religiosos distribuíam os cogumelos para os envolvidos na cerimônia, após uma preparação prévia, em que somente eram ingeridas substâncias como o chocolate e o mel. Durante a noite, após o consumo dos cogumelos, os nativos dançavam e entravam em um estado de êxtase, no qual experimentavam as visões. Quando o efeito dos cogumelos deixava de agir no sistema nervoso, os participantes se reuniam e discutiam as visões obtidas durante a experiência, chegando a um senso comum sobre o que havia de passar durante o próximo período de tempo, adotando como predições de futuro as visões obtidas.
Também é citada pelo autor uma cerimônia denominada “a festa das revelações”, organizada anualmente pelo imperador asteca Moctezuma, em que os cognescentes ingerem cogumelos psicotrópicos[4]. Infortunadamente, os registros de tal ritual foram perdidos, possivelmente pela ação da Igreja Católica, a qual considerava o culto do cogumelo como uma abominação para o cristianismo.
O papel que a Igreja católica desempenhou na destruição dos costumes e rituais xamânicos dos povos nativos, em relação ao uso dos enteógenos, com certeza foi decisivo para o desaparecimento de registros escritos, ou até mesmo para o quase total desaparecimento dos rituais. A ideia de uma expansão da mente, unida à expressões corporais como danças realizadas em um estado de transe, colaborou para que fosse passada uma visão demoníaca do uso dos cogumelos, fazendo com que os fiéis católicos empregassem suas forças na luta contra a disseminação dos cultos xamânicos.
Morfologia
Os cogumelos Psilocybe cubensis são fungos de pequeno porte, geralmente apresentando características marcadas que os diferem das demais espécies. Usuários desses fungos são comumente vistos coletando-os em pastos em que os mesmos surgem, geralmente sobre montes de esterco. A espécie apresenta as seguintes características:
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  • Píleo: 2-8 centímetros, com formato cónico a convexo quando novo, e tendendo para o formato de disco com o amadurecimento do corpo de frutificação. Quando novos, apresenta uma coloração mais clara, mas vai adquirindo um tom escuro, acompanhando o amadurecimento dos esporos.
  • Lamelasadnatas para adnexas, estreitadas em relação ao centro. As mesmas ficam ocultas por um véu quando o corpo do fungo é novo, e após o rompimento do tecido, se expõem para o meio ambiente, iniciando a liberação dos esporos. As lamelas apresentam um escurecimento gradativo.
  • Estipe: geralmente não cresce mais que 4-15 centímetros. Apresenta uma textura característica de borracha, com grossura média e comprido, mas mantendo a estrutura troncuda. O final do talo, na parte que permanece no solo, é cheia de pontos brancos, e bem irregular. Possui leves riscos escuros que o cortam longitudinalmente. Uma característica comum do gênero é apresentar os restos do véu presos ao talo, formando o que pode ser chamado de anel.
  • Gosto e Aroma: quando frescos, os cogumelos Psilocybe cubensis apresentam uma textura farinácea, e cheiro leve e adocicado. Quando desidratados, costumam apresentar aroma de biscoito de mel, e gosto de mofo. A maioria dos usuários descreve o gosto dos cogumelos como ruim.
  • Características microscópicas: esporos de 1.5–17 x 8–11 µmsub-elipsóides. O basídio apresenta comumente 4 esporos, mas algumas vezes 2 ou 3, dependendo da espécie.[4]
Habitats
Podemos destacar cinco habitats diferentes para os cogumelos Psilocybe cubensis:
Pastagens: Talvez esse seja o habitat mais comum e conhecido para qualquer espécie de Psilocybe com que se está pesquisando. A abundância de animais ruminantes oferece grandes possibilidades para esses fungos coprófilos, pois o esterco de bovinos e equinos fornece um ambiente perfeito para o crescimento e o desenvolvimento do micélio.
Depósitos de Esterco: Pelo mesmo motivo das pastagens, depósitos de esterco fornecem um ambiente perfeito para os cogumelos coprófilos.
Jardins: Tanto pela importação de espécies de plantas ou tanto pela reconstituição de um habitat, jardins geralmente oferecem um bom local para o crescimento de cogumelos, embora os mesmos sejam raros, pelo constante manejo do terreno.
Florestas: Com certeza também é um dos melhores ambientes para se encontrar cogumelos. A alta umidade do solo, unida com a presença de uma grande quantidade de matéria orgânica, fornece o ambiente perfeito para o crescimento de fungos, embora sejam raras as espécies de Psilocybe que se desenvolvam em florestas.
Banhados e alagadiços: Os cogumelos Psilocybe mexicana crescem em banhados e terrenos alagados na atual região do México. Substratos aerados como o esfagno e a presença de matéria orgânica e umidade fornecem um bom ambiente para cogumelos, embora sejam raras as espécies que se adaptem à esse ecossistema.

Ciclo de Vida
Os cogumelos Psilocybe cubensis pertencem à Classe Basidiomycetes, ou seja, são chamados de basidiomicetos. Os basidiomicetos são fungos desenvolvidos que apresentam uma estrutura comum denominada basídio, que produz e amadurece esporos. Os basídios se desenvolvem nas lamelas do cogumelo. A maior parte dos fungos macroscópicos pertencem à Subclasse Holobasidiomicetidae. Os cogumelos que desenvolvem esporos a partir de lamelas podem ser enquadrados na Ordem Hymenomycetales.
O cogumelo cubensis apresenta um ciclo comum, e estremamente adaptado às condições em que o fungo cresce. Todos os processos de desenvolvimento foram se adaptando às condições e ao ambiente, seja ele doméstico ou natural.

Ciclo de vida de um Psilocybe cubensis.
Podemos sintetizar o ciclo como esporo-esporo. Isso significa que o ciclo de vida do Psilocybe cubensis começa quando o esporo germina, e termina quando um novo esporo é produzido. A germinação do esporo, em um ambiente adequado, dá origem a uma hifa inicial, monocariótica. Essa hifa vai sofrendo divisões e multiplicações celulares, dando origem a um emaranhado de hifas. Denominamos ao agrupamento de hifas, micélio. A maior parte do ciclo de vida de um cogumelo se passa somente com a presença do corpo vegetativo, que é o micélio que se desenvolve degradando o substrato em que está posicionado, por meio de digestão extracelular. A partir do surgimento dos corpos de frutificação, ou cogumelos, é que o fungo se divide em dois corpos: o vegetativo já presente e o corpo de frutificação.
Como os esporos são produzidos em grande quantidade, e soltos no ambiente muitas vezes chegando à incríveis números, é normal que em um substrato, possam existir hifas provenientes de dois esporos diferentes. Quando duas dessas hifas provenientes dos esporos se juntam, por um processo denominado somatogamia, é produzido um micélio dicariótico. É importante destacar que não ocorre fusão de núcleos, mas apenas de paredes celulares hifais. Um micélio dicariótico pode viver indefinidamente, gerando corpos de frutificação em períodos aleatórios, ao contrário de um monocariótico, que possui vida curta. Porém em cultivos caseiros desses fungos, é relatada a morte do corpo vegetativo, após um período de tempo.
Em condições apropriadas, o micélio dicariótico pode iniciar a geração de corpos de frutificação. O micélio inicia um processo de transformação, no qual modifica sua estrutura voltado para o crescimento do cogumelo. Um nó hifal aflora do substrato, logo transformando-se em uma primórdia, que crescerá por acumulação de micélio e água obtidos do meio. Quando o cogumelo atinge a fase adulta, ocorre o amadurecimento dos esporos, e a liberação dos mesmos para o meio ambiente com o rompimento do véu. O ciclo se completa com essa etapa.
Uso enteogênico
Os cubensis são a espécie de cogumelos psicoativos do gênero Psilocybe mais conhecidos e cultivados mundialmente. As concentrações de psilocina e psilocybina, estão estimadas em 0.14-0.42%/0.37–1.30% (quando desidratados), no cogumelo inteiro; 0.17–0.78%/0.44–1.35% no píleo e 0.09–0.30%/0.05–1.27% no talo.[7]
A experiência
As experiências com cubensis costumam ser extremamente construtivas para o usuário que as experimenta, porém não sendo raros os caso de ''bad-trips''. Cada usuário relata suas experiências de uma maneira extremamente individual, então torna-se difícil contextualizá-las a um termo comum. Porém, como uma abordagem geral, temos como efeitos físicos o cansaço muscular, a perda ou redução de reflexos, a alteração na percepção da visão e do toque. Como efeitos mentais, a presença de leves ''insights'' e aumento na facilidade do pensamento em baixas dosagens, incluindo também uma maior sociabilização. Já em altas dosagens, o usuário tende a perder o contato com o mundo exterior e acaba tendo uma experiência muito mais enteogênica.

A ingestão

Os cogumelos cubensis podem ser ingeridos em por meio de três principais métodos: por meio de uma infusão em água quente, mais conhecida como chá-de-cogumelo, por meio da ingestão de cápsulas contendo os cogumelos secos e moídos (esta visa a disfarçar o gosto desagradável dos fungos relatado por alguns usuários) ou por ingestão in natura, quando os cogumelos são comidos diretamente.
Logo após a ingestão, os efeitos começam a ser sentidos dentro de 15 a 30 minutos, e podem durar por até 5 a 6 horas, dependendo da dosagem.

Legalidade

Em muitos países, portar a substância Psilocibina, ou materiais que contenham as mesmas, tais como os cogumelos, constitui um ato ilegal. Há um conflito entre a portabilidade de esporos ou de micélio, já que nos esporos não há a presença de Psilocibina, e consequentemente, comercializar ou transportar esporos não constitui uma infração. Como são pouco estudados ou de difícil cultivo, os cogumelos são pouco listados ou regulamentados, até mesmo pela sua grande presença em meios naturais. Portanto, cada país apresenta a sua própria legislação quanto à esses fungos.[8]

Referências

  1.  Earle FS. "Algunos hongos cubanos" (em espanhol). Información Anual Estación Central Agronomica Cuba.
  2.  Patouillard NT (1907). "Champignons nouveaux du Tonkin" (in French). Bulletin de la Société Mycologique de France.
  3.  Murrill WA (1941). "Some Florida Novelties". Mycologia.
  4. ↑ a b c d e Psilocybin-Mushrooms-of-the-World-An-Identification-Guide-1996.
  5. ↑ a b The entheomycological origin of Egyptian crowns and the esoteric underpinnings of Egyptian religion, Stephen R. Berlant.
  6.  Estatuto e Papel dos faraós
  7.  Tsujikawa K, Kanamori T, Iwata Y, Ohmae Y, Sugita R, Inoue H, Kishi T. (2003). Morphological and chemical analysis of magic mushrooms in Japan. Forensic Science International 138(1-3): 85-90.
  8.  Legalidade da portabilidade de esporos de cogumelos.


Sociedade Psicodélica

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Sociedade Psicodélica

Terence McKenna


Baseado em uma fala dada em um encontro da ARUPA
no Instituto Esalen em junho de 1984.


Eu quero falar esta noite a respeito da noção de uma sociedade psicodélica. Quando eu falei em Santa Bárbara em uma conferência sobre psicodélicos em maio de 1983 minhas lentes de contato falharam em um ponto crítico na minha leitura e eu simplesmente tive que improvisar. Mais tarde quando eu ouvi a fita da gravação eu ouvi a frase “sociedade psicodélica.” Eu nunca usei este termo conscientemente em uma conversa. Mas porque eu havia dito, e porque havia acontecido uma ressonância através das pessoas que estavam lá, eu comecei a pensar sobre isso e esta noite irei especular sobre o que isto pode significar para nós.

Quando eu penso em sociedade psicodélica, esta noção implica em criar uma sociedade que vive à luz do Mistério da Existência. Em outras palavras, problemas e soluções deveríam ser retiradas de seu papel central nas organizações sociais, e Mistérios – Mistérios irredutíveis – deveriam estar em seu lugar. Nos anos 20 o entomologista britânico J.B.S. Haldane disse em um ensaio, “O universo pode não ser apenas mais estranho como supomos; ele pode ser mais estranho do que nós podemos supor.”

Eu sugiro que assim como nós olhamos para trás em cada ápice da civilização na história humana - seja ela Maia, ou Greco-Romana, ou a Dinastia Sung – temos acreditado que isso aconteceu graças à posse de uma descrição apurada do cosmos e da relação do homem com ele. Isto parece ir junto com o completo florescimento de uma civilização. Mas, a partir deste ponto de vista da nossa presente civilização, nós consideramos todas estas concepções como se fossem piores, de segunda mão. Nós nos orgulhamos que nossa civilização tem a última e real descrição sobre o que está acontecendo.

Eu considero isto um erro, e que atualmente nos cega, ou torna nosso progresso histórico muito difícil, é nossa falta de atenção que nossas crenças se tornaram obsoletas e deveríam ser colocadas de lado. Uma sociedade psicodélica abandonaria os sistemas de crenças pela experiência direta. É o que eu penso a respeito a do problema do dilema moderno: a experiência direta foi descontada, e no seu lugar todos os tipos de sistemas de crença foram criados.

Eu preferiria um tipo de anarquia intelectual onde não importa o quê fosse pragmaticamente aplicável e fosse trazido de qualquer situação; onde crença fosse entendida como uma função auto-limitante. Porque, veja, se você acredita em alguma coisa você é automaticamente impedido a acreditar em seu oposto; que significa que um grau da liberdade humana foi coisificada no ato de se submeter à esta crença.

Eu insisto que é supérfluo ter crenças, porque o universo é realmente mais estranho do que nós supomos, precisamos retornar para o que no século XVI era chamado de método Baconiano; que não significa a elaboração fantástica de construções de pensamentos que explicam a natureza, mas somente uma catalogação dos fenômenos que nós experimentamos. Redes de computadores e drogas psicodélicas e a crescente disponibilidade de informação no mundo têm tornado possível a evolução de novos estados de informação que nunca existiram anteriormente. Estamos processando estas novas oportunidades em uma razão muito devagar porque estamos sendo impedidos pela ideologia.

Os modelos Freudianos e Junguianos enxergam a experiência psicodélica como um desmantelamento da resistência em revelar emoções, motivos e sistemas de crenças escondidas e complexas. Esta noção, há cinco ou dez anos, foi substituída pelo modelo de experiência alucinógena xamânica. Este modelo sustenta que pessoas arcaicas têm delegado membros especiais de uma sociedade para provar informações de domínio secreto usando drogas psicodélicas. A informação extraída destes domínios são então usadas para guiar e direcionar a sociedade.

Eu estou interessado neste segundo modelo. Tenho gastado algum tempo na Amazônia e estou familiarizado com os mecanismos operacionais do xamanismo e personalidades xamânicas. Acredito que a experiência psicodélica vai além da instituição do xamanismo. Estamos diante de uma oportunidade única de arremessar de lado a crise da cultura mundial.

Nossa habilidade de destruir a nós mesmos é a imagem espelhada da capacidade de nos salvarmos. O que está faltando é uma visão clara do quê deveria ser feito. O que deveria ser feito certamente não é a acumulação cada vez maior de arsenal termonuclear ou a promoção de todo o tipo espetáculos de primatas – que Tim Leary tem muito bem denunciado. O que precisa ser feito é que nossas concepções ontológicas fundamentais de realidade precisam ser refeitas. Precisamos de uma nova linguagem, de modo que para ter uma nova linguagem precisamos de uma nova realidade. É um tipo de equação urobórica, ou uma situação de desvencilhamento. Uma nova realidade gerará uma nova linguagem. Uma nova linguagem fará uma nova realidade se legitimar e ser uma parte desta realidade.

As substâncias psicodélicas podem ser imaginadas como pontos de uma grade de informações. Elas provêm novas perspectivas na realidade, e quando você reconecta todos os pontos de vista que você coletou considerando realidade, então um modelo aplicável de realidade e que faça sentido começa a surgir.

Eu penso que esta realidade aplicável e que faça sentido – o que Wittgenstein nomeou algo como “suficientemente verdadeiro” - é o que estamos procurando. O “suficientemente verdadeiro” mapeando por cima da teoria é o que estanos procurando, mas a experiência deve ser feita primeiro. A linguagem do Eu deve ser feita primeiro.

O que eu estou defendendo é que cada um de nós tome responsabilidade pela transformação cultural, que não é algo que seria disseminado de cima para baixo. É algo que cada um de nós podemos contribuir nos esforçando a viver tão para dentro do futuro quanto possível. Devemos nos livrar das concepções de anos 40, 50, 60, 70, 80, 90. Devemos transcender o momento histórico e tornarmos exemplares de humanidade no Fim do Tempo.

Alguns de vocês que acompanham minha leitura esta tarde se preocupam em saber que eu acredito que liberação – ou vamos dizer “decência” - como uma qualidade humana e antecipação deste estado perfeito da humanidade futura. Podemos ter vontade de aperfeiçoar o futuro nos tornando um microcosmo do futuro perfeito, não mais distribuir culpa para instituições ou hierarquias de responsabilidade ou controle, mas dar-nos conta que a oportunidade está aqui, a responsabilidade está aqui, e os dois nunca se tornem congruentes denovo. A salvação para o nosso espírito imortal depende do quê você faz com as oportunidades que a vida lhe dá.

Então, o que faremos com a oportunidade? O quê significa dizer, em termos operacionais, “Viva tão longe ao futuro quanto puder?” Significa tomar uma posição vís à vis da emergente realidade hiper-dimensional. Isto não significa necessariamente tornar-se um usuário de drogas psicodélicas; mas significa admitir esta possibilidade. Se você sente um potencial heróico dentro de você para ser um dos experimentadores – um dos pioneiros – então você sabe o que fazer. Se por outro lado você se sente perdido no abismo – se você se sente como William Blake chamou de “caindo para a eterna morte,” caindo do espiral da existência que conecta uma encarnação à outra – então oriente-se para a experiência psicodélica como uma fonte de informação.

Uma imagem espelhada da experiência psicodélica emergiu com o hardware e software integrados às redes de computadores. A internet e a www são, paradoxalmente suficientes, uma profunda influência feminilizante na sociedade. Isto está no desenvolvimento de hardware/software que inconscientemente está se tornando consciente. Esse é um pensamento que tomamos do bon mot platônico - “Se Deus não existisse, o homem deveria inventá-lo” - e disse, “se a inconsciência não existe, a humanidade a inventará na forma de vastas redes que serão capazes de transferir e transformar informação.”

Isto é, de fato, onde estamos presos: a transformação de informação. Nós não mudamos fisicamente nos últimos quarenta mil anos. O tipo humano está bem estabilizado antes do fim da última glaciação. Mudanças que foram feitas antigamente no âmbito biológico está acontecendo agora no âmbito cultural. Estamos abrigando presunções culturais e nos preocupando com nossa visão do mistério unitário em uma razão cada vez mais rápida, enquanto tentamos nos acomodar ao desdobrameno daquele mistério que se deita diante de nós no tempo. Este é o processo que está fundindo a vasta sombra de destruição por cima de toda a experiência da história humana.

Anterior à nossa própria era, a única palavra que poderia ser aplicada para esta força que faz as pessoas se unirem, causando nascimento e morte, levantando e derrubando civilizações, era Deus; e isso era imaginado como uma forna auto-consciente que estava aprendendo a respeito do mundo como um gato aprende a respeito do aquário e fazendo as coisas acontecerem. Agora temos uma noção diferente – a noção de um sistema vetor que força uma grande área que está sendo empurrada para um espaço muito pequeno, e este pequeno micro-setor de tempo/espaço é a história. É um ímpeto que os budistas chamam de “o reino densamente empacotado,” um reino onde os opostos estão unificados.

A história é este reino onde o corpo é finalmente interiorizado e a mente exteriorizada. Penso a mente como um órgão da quarta dimensão no nosso corpo. Você não pode vê-lo porque ele está na quarta dimensão, mas você experimenta uma baixa dimensão seccionando-a no fenômeno da consciência. Mas isto é somente uma secção parcial. assim como uma elipse é um desenho parcial de um cone.

O crescimento dos sistemas de informação é somente um reflexo do hardware masculino do que já existe na natureza como um fato. Agora nos resta afiar nossas intuições e nos tornarmos atentos a este sistema preexistente e ligá-lo para que possamos estar um passo a frente dos dualismos que nos separam dos outros e do mundo. Precisamos nos dar conta que há um enxame de genes – e não um grupo de espécies – no planeta; que metade do tempo você está pensando no que está escutando; que idéias são criaturas notavelmente escorregadias que são difíceis de traçar sua origem; e que estamos realmente no mano-a-mano e todos juntos em uma dimensão que não é tão acessível e sólida como você desejaria que fosse (como Joyce comenta em Finnegan's Wake).

Os psicodélicos são o red-hot, a edição social/ética porque eles são agente descondicionadores. Eles levantarão dúvidas se você é um rabino ortodoxo, um antropólogo marxista, ou um homem de altar porque o seu negócio é dissolver sistemas de crenças. Eles fazem isso muito bem, e depois eles deixam você com uma ferida na experiência, o que William James chamou – tomando uma experiência infantil – “uma confusão florida, barulhenta.”

Fora isso você reconstrói o mundo e precisa entender que esta reconstrução é um diálogo onde suas decisões – a projeção de sua gramática no espaço intelectual em sua frente – irá formar um gel sobre o ser. Nós todos criamos nosso próprio universo porque estamos todos operando com a nossa própria linguagem privada que são somente traduzíveis através da linguagem de outra pessoa. Há ainda um análogo físico a isto que irá promover um reforço desta noção de separação e nossa singularidade.

A imagem do mundo que se forma em seus olhos é feita de fótons. Fótons são minúsculos pacotes de luz tão próximas que podem ser pensadas como partículas. Isto significa que cada fóton que toca o fundo dos seus olhos é diferente dos fótons que tocam o fundo dos olhos de qualquer outra pessoa. Isto significa que eu me baseio em uma seção do mundo 100% diferente da imagem que qualquer um de vocês estão se baseando. E ainda estamos sentados aqui com uma suposição ingênua de que nossas imagens do mundo diferem somente pela nossa perspectiva dentro do espaço desta sala.

Temos inúmeras suposições ingênuas como esta construção do nosso pensamento. Nosso mecanismo explanatório mais venerado – tal como “ciência” - surge também como nosso mecanismo explanatório mais velho. Portanto, eles têm se construídos como a mais ingênua e não-examinada suposição. “Ciência”, por exemplo, podemos demolir em trinta segundos. A “ciência” diz a você um grupo de condições que criará um efeito dado, e a cada momento que o grupo de condições estiver em seu lugar o efeito será obtido. O único lugar que isto acontece é dentro de um laboratório. Nossa experiência não é assim. O contato com uma pessoa é sempre diferente. A experiência de fazer sexo, comer uma refeição, tomar um ônibus – isto penetra no ser – e torna suportável de todo jeito. A “ciência” ainda deseja dizer a você que somente o valor das coisas descritas em um fenômeno podem ser disparadamente repeditas. Isto se dá porque estes são somente os fenômenos que a ciência pode descrever, e é o nome do jogo com o qual ela se preocupa.

Mas nós temos que reivindicar nossa liberdade – tomar vantagem do abismo minúsculo entre o imenso abismo do desconhecimento; seja talvez a morte, ou reencarnação, ou transições para outras formas de vida. Estas coisas nós não sabemos ou entendemos, mas no momento que somos humanos temos a rara oportunidade de descobri-las. E eu tenho fé de que isto é possível – em algum lugar ou em algum momento. Talvez nenhum progresso seria feito até a nona hora em que a realidade pudesse ser literalmente fragmentada em pedaços, para além do ponto de reconstrução.

Existe, definitivamente, uma tendência anti humanista em todos os sistemas, Ludwig von Bertalanfe, que foi o inventor da teoria dos sistemas gerais, disse, “pessoas não são máquinas, mas em toda situação que elas tiverem a oportunidade, elas irão agir como uma.” Estamos todos caindo em padrões. Nós seguramos estes padrôes cada vez mais forte. Eles não podem ser violados; e isto acontece no nível das idéias.

Estamos agora no crista da onda da história, em tipo de aperto que nos devolve ao passado. Espero que tenhamos chegado ao fim desta fase. Queira você comprar minha visão apocaliptica transformadora envolvendo 2012, ou queira você dizer que somente por olhar ao seu redor você tem certeza que, logo, logo, a merda vai ser atirada ao ventilador, eu acho que nós concordamos que estamos diante de um impasse. O que está para acontecer será ou um grande deslocamento da biosfera, causando uma invalidação da inteligência como uma adptação biológica e nossa extinção; ou iremos nos tornar – como James Joyce sonhou - “o homem auto governável;” em outras palavras, a exteriorização do espírito e a interiorização do corpo.

Neste processo, tudo terá de ser desafiado. Toda a noção de humanidade será desafiada. Estamos à beira da manipulação do DNA, ou de tomar controle da forma humana, de sermos capazes de extender a noção de arte para dentro do corpo humano. Somos clássicos? Deveríamos ser Adonis e Perséfone? Ou o que somos nós? Somos surrealistas? Deveria eu ser uma batata ou uma girafa em chamas? Estas são questões que terão de ser enfrentadas. Eu sorrio enquanto falo isto, mas estas questões são importantes.

E a noção de ganho vertical que vemos nas metáforas feitas em relação à experiência psicodélica: expansão da consciência, ficar chapado (getting high - a tradução seria “elevar-se”), viagem psicodélica, vôo xamânico. É como se os alucinógenos fossem o feminino, o software, o formador, o cabo condutor do que está ocorrendo. Seguindo por trás vem o hardware, a mentalidade construtora masculina.

Isto irá continuar até que o cabo condutor das longas distâncias da engenharia contrutora se rompa. Esta é a crença xamânica: que nós podemos encontrar uma maneira de usar químicos em nossos corpos, usar nossas vozes, nossos pensamentos e nossas mãos por sobre nós e sobre os outros; para tranformar nós mesmos sem nenhuma tecnologia; para nos movermos no reino da imaginação com uma tecnologia psicofarmacológica interiorizada que nos liberte dentro da nossa imaginação.

Ao mesmo tempo isto está acontecendo com a mentalidade construtora masculina, que irá colocar sociedades humanas na órbita da terra/lua e em planetas próximos. Mas há um porém para a mentalidade construtora, que é um vácuo que envolve os planetas e exemplifica este abismo e o elemento feminino. É o mistério da Mama matrix de Finnegan's Wake. A misteriosa Mama matrix é o universo, e não há como escapar deste fato. Mas eu penso que a mentalidade construtora, que irá tentar transformar o homem em suas máquinas será desestabilizado pelos psicodélicos, pelo pensamento voltado ao planeta, pelo lado voltado à imaginação de nossa consciência, que irá criar as bases para o casamento espiritual que será a incubação química de um novo formato da humanidade; e isto não está longe.

Não pode estar longe. Esta é uma responsabilidade inerente a todos nós que nos faz criá-la. Há uma obrigação definida para examinar as possibilidades de ação, e para pensar claramente sobre si e sobre o outro, sobre a linguagem e o mundo, sobre o passado e o presente. Por muito tempo nós vivemos em um mundo definido pela geografia. Se você nasceu na Índia, você achará que o cosmos é de uma maneira. Se você nasceu no Brooklyn, você achará de outra. Precisamos transcender estas grades do destino biológico, que nos torna aquilo que nós não queremos ser. Nós podemos clamar por este nível mais alto de liberdade através do simples ato de prestar atenção à existência.

Precisamos começar a exprimir nossas visões ideológicas antes que sejamos consumidores das próprias. Precisamos desligar a nossa TV interna que nos puxa para as suposições culturais ditadas pelo Pentágono, Madison Avenue, e pelo estado corporativo. Precisamos, ao invés disso, ligar nossos modems e começar a interagir como pessoas dotadas de mentalidade pelo mundo afora e estabelecer esta nova ordem intelectual que será a salvação da biosfera, eu acredito firmemente nisto. A internet finalmente concretiza nossa coletividade permitindo que pessoas sintam a interrelação de seus destinos; sentem a interrelação como uma coisa que transcende divisões nacionais, divisões ideológicas. A net permite que cada um de nós recupere a experiência de ser parte de uma família humana.

Nenhuma reconstrução de sociedade pode ser feita sem psicodélicos porquê nós perambulamos durante muito tempo sem eles. Certamente somos produtos de uma sociedade que foi longe demais sem psicodélicos como nenhuma outra cultura no mundo. Isto foi há dois mil anos desde que o Mistério foi real em Eleusis e nestes dois mil anos perambulamos longe na disfunção e na confusão. Mas nós somos filhos pródigos. Podemos reparar a idéia de xamanismo a partir do estase social pré-tecnológico e projetá-lo, aperfeiçoá-lo e viajar com ela para além das estrelas.

E se não fizermos, tudo estará perdido. Há somente riscos e comprometimentos nestas aspirações milenares e nestas metas culturais, metas que têm o potencial de restaurar o significado e a direção para nossa civilização. Se isto não for feito iremos fragmentar nossa oportunidade e deixar o horror e a destruição do típico cenário futuro.

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Anarquicamente copiado de: 
FORTE, Robert. Entheogens And The Future Of Religion. San Francisco, CSP, 1997.

Humildemente traduzido por:
Waver

Versão copyleft – idéias não têm dono. Espalhe a palavra.

Terapia para mendingos usará ayahuasca. O ESTADO DE SÃO PAULO/SP

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Projeto de psiquiatra tem por objetivo recuperar dependentes de drogas e conseguir a reintegração social

Uma nova e polêmica experiência com o chá de ayahuasca, a conhecida bebida ingerida pelos adeptos da seita do Santo Daime, está prestes a ser iniciada em São Paulo. o psiquiatra e ex-mestre da União do Vegetal Wilson Gonzaga da Costa pretende oferecer a droga psicoativa a moradores de rua para tratamento de dependências e reintegração à sociedade. "Queremos proporcionar a recuperação mental e espiritual", afirma Costa.

O psiquiatra começou a envolver-se com moradores de rua há mais de um ano. No início, porém, limitava-se a distribuir sopa para um grupo no Largo Santa Seca, região central da capital. Há três meses, surgiu a idéia de dar o chá de ayahuasca como forma de tratamento. "A missão me foi dada pela força, em um dia que estava sob o efeito do chá", revela.

Costa garante que não tem a intenção de montar uma nova seita. "Estou apenas cumprindo minha missão", diz. Ex-integrante do Conselho Federal de Entorpecentes, o psiquiatra vai enfrentar uma intensa oposição. "Vou fazer de tudo para evitar que esse abuso se concretize", afirma o coordenador da Unidade de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Laranjeira. "Isso é uma loucura", completa.

Laranjeira observa que a pesquisa vai usar uma população carente como alvo. "Muitos apresentam danos cerebrais, provocados pelo abuso de drogas", comenta. "Não há estudos sobre os efeitos do chá em pessoas tão vulneráveis." Para ele, há muitas outras formas de tentar ajudar moradores de rua. "Oferecer uma droga que pode piorar ainda mais a situação do grupo é, no mínimo, uma temeridade", diz. "O mais grave é que o psiquiatra está lidando com uma população muito carente, desorganizada, que é fácil manipular", completa.

Costa toma a bebida há 18 anos e está confiante. Ele explica por que a ayahuasca pode ter efeito benéfico em pessoas dependentes de drogas: "Ela provoca um estado alterado de consciência que pode levar o indivíduo a perceber seus conflitos mais íntimos." O psiquiatra diz que é como se o Daime desencadeasse uma auto-análise "muito intensa e produtiva". Mas ele mesmo admite que o uso tem de ser controlado. Pessoas com esquizofrenia ou com quadros intensos de paranóia não devem usar de forma nenhuma a substancia", diz. Há outra restrição: a droga deve ser usada apenas em rituais, para evitar que a experiência possa desencadear uma psicose. "Por essa razão, o chá será tomado sempre em um local fechado, seguindo os preceitos aprendidos por mim na União do Vegetal."

Experiência - Além da inspiração da "forca", Costa afirma ter obtido sucesso com a primeira experiência, feita há cerca de um mês. O chá foi oferecido ao mecânico desempregado e morador de rua Humberto, de 48 anos.

O psiquiatra explica por que escolheu Humberto: "Durante nossa convivência, ele deu várias demonstrações de que gostaria de mudar", afirma o psiquiatra. "Humberto vinha bêbado ou sob o efeito do craque, mas disposto a sair da rua", relata o psiquiatra. 

Costa deu emprego e roupas ao mecânico. Depois de um tempo, ofereceu o chá. "Ele disse que a ayahuasca daria uma sensação de bem-estar, paz e resolvi experimentar", lembra Humberto. O mecânico, porém, não consegue relatar qual o efeito provocado. "Fiquei bem na hora e nos dias seguintes: sinto confiança e uma força que não sei de onde vem", descreve. Segundo ele, desde então, não voltou a usar craque. "É difícil, mas estou conseguindo.''

Humberto garante que mudou depois de se dar conta de todo o processo de destruição pelo qual passou. "Há alguns anos, tinha uma família e uma casa cheia de eletrodomésticos", afirma. Como tantos outros viciados, depois de começar a fumar craque, o mecânico vendeu tudo, até mesmo o botijão de gás. "Fiquei maltrapilho, mas agora tenho o prazer de poder entrar em um ônibus e sentar normalmente ao lado de outro passageiro."

O tempo de abstinência ainda é curto para dizer se Humberto está livre de recaídas. Mesmo que a melhora seja constatada, Costa admite que outros fatores podem ter contribuído. "Demos a ele emprego, um grupo de referência e o valorizamos." Mesmo ainda sem parâmetros certos, a experiência vai continuar. "Estamos dando o chá à nossa equipe e, em uma segunda etapa, queremos preparar os próprios moradores para oferecer assistência ao grupo."

Resultados de estudos são controvertidos

Idéia é comprovar influência sobre o abandono do álcool

Os efeitos terapêuticos da ayahuasca estão sendo investigados por pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da Unifesp. Os estudos, que em nada se relacionam com a experiência do médico Wilson Gonzaga Costa, apresentam resultados surpreendente e, ao mesmo tempo, controvertidos.

O psiquiatra Eliseu Labigalini Júnior apresentará no próximo mês sua tese sobre o uso da ayahuasca por ex-dependentes de álcool. Em 1993, pesquisadores de vários centros fizeram uma investigação em uma comunidade da União do Vegetal (UDV), na Amazônia. Durante o estudo, foram realizados testes e entrevistas com 15 integrantes da seita, que tomavam o chá havia mais de dez anos. o mesmo foi feito com um grupo de controle. ''Verificamos que 11 dos integrantes da seita tinham uma história de uso moderado e severo de álcool, antes de ingressar na UDV", conta Labigalini Júnior.

Pouco tempo depois de entrarem na seita, o consumo foi abandonado. "Muitos diziam perceber, durante o estado alterado de consciência, que estavam trilhando um caminho que inevitavelmente os levaria à ruína, a menos que mudassem radicalmente de conduta", revela.

Ex-dependentes - As fortes experiências fizeram com que, aos poucos, o álcool fosse deixado de lado. "Fiquei curioso com esse resultado e, por isso, resolvi estudar novamente o assunto", explica Labigalini Júnior.

Em sua tese, o psiquiatra acompanhou os casos de quatro ex-dependentes de álcool. A exemplo do que ocorreu com integrantes da UDV no Amazonas, todos abandonaram o vício depois de entrar na seita. "Eles não trocaram uma dependência por outra", garante Labigalini Júnior. Segundo ele, até hoje não há nenhum estudo que comprove que o chá vicia.

De acordo com os relatos colhidos pelo psiquiatra, o estado provocado pelo chá permite o contato com todos os níveis de consciência - o chamado self.

Mas Labigalini Júnior reconhece que a ayahuasca apresenta alguns riscos. "O uso do alucinógeno tem de ser feito dentro de um contexto ritualizado", afirma. Caso contrário, há a possibilidade de o chá acarretar crises psicóticas. "A ayahuasca provoca uma espécie de ruptura das barreiras do Consciente", diz. "O ritual funciona como um limite protetor."

Todos os entrevistados ressaltaram que experiências com o chá trouxeram mudanças importantes. "Eles se deram conta do processo que estabeleceu a dependência do álcool", afirma.

Em todas as entrevistas, também há referências constantes sobre a sensação da presença de Deus. "As modificações no comportamento ocorreram lenta mente e por meio de uma tentativa concreta de mudança de hábitos."

Para o diretor do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Arthur Guerra de Andrade, o estudo de Labigalini Júnior é "ingênuo". "Em vez de fazer entrevistas, ele deveria indicar a um grupo o uso da ayahuasca e, a outro, um tratamento com drogas convencionais."

O coordenador da Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp, Ronaldo Laranjeira, é ainda mais crítico: "Todos sabemos que a religião em muitos casos faz com que o dependente deixe de usar a bebida", afirma.

Mas Labigalini Júnior se defende. "Em muitos casos, o que ocorre é que o dependente apenas transfere o objeto da compulsão", observa. "Ele deixa o álcool e torna-se um fanático religioso", completa.

O psiquiatra afirma que esse comportamento não foi constatado entre os integrantes da UDV. "Ficou claro que, com a transformação provocada pela ayahuasca, a causa da compulsão foi sanada." (L.F.)

Pesquisa investiga efeitos sobre sistema emocional

Psiquiatra da Unifesp usa colegas como cobaias em estudo iniciado há 8 meses

A forma como a ayahuasca interfere no sistema emocional está sendo detalhadamente acompanhada em uma pesquisa desenvolvida há oito meses pelo psiquiatra da Unifesp, Lúcio Rodrigues. Para fazer o estudo, ele conta com a colaboração de colegas que nunca haviam tomado o chá. Eles concordaram em participar, cada um, de três rituais e contar a experiência ao pesquisador.

"A primeira entrevista eu não levo em consideração, pois geralmente o ritual inicial vem acompanhado de grande expectativa", diz Rodrigues. Em entrevistas minuciosas, o psiquiatra pretende detectar o processo desencadeado pelo chá.

De acordo com o resultado obtido, o uso terapêutico da droga poderá ser pesquisado com maior profundidade. "A ação das substâncias alteradoras do estado de consciência sempre foi alvo de pesquisas sérias", diz o psiquiatra. "No entanto, depois da década de 60, quando as drogas começaram a ser usadas fora de rituais, houve banimento e grande preconceito."

Rodrigues lamenta o retrocesso. "Esse tipo de substancia talvez possa ajudar pessoas a entrar em estado de profundo auto-conhecimento", diz. O grande erro, no entanto, é usá-la fora do contexto ritual. "Sabemos que, quando usadas em seitas, as chances de ocorrerem surtos psicóticos são reduzidas praticamente a zero."

A exemplo do que constata o psiquiatra Eliseu Labigalini, também da Unifesp, Rodrigues acredita que o chá possa ser um instrumento de ajuda para contornar problemas graves como dependências. Para ele, o termo drogas alucinógenas - classe em que está incluída a ayahuasca - não é correto. "A expressão passa a idéia, incorreta, de que a substância provoca a deturpação da realidade." Há uma corrente que usa o termo enteógenas - que provoca um conhecimento do deus interior. "Não é necessariamente uma referência ao místico, mas à totalidade da consciência."

A pesquisa de Rodrigues pode ainda constatar como se comportam, ao tomar o chá, pessoas sem identidade religiosa. "Pelos relatos feitos por integrantes da seita, percebemos que a ayahuasca desencadeia um processo em que todos os níveis de consciência afloram." Um efeito que poderia ser obtido em um processo longo de análise. "Precisamos saber se o mesmo ocorre com quem toma o chá nos rituais, mas não se identifica totalmente com os preceitos das seitas." (L.F.)

Droga é ligada a rituais

A ayahuasca já fazia parte das celebrações indígenas antes da colonização

Os índios chamam-na de vinho da alma e vinho dos mortos. Em comunidades mestiças, ela é conhecida por Daime, caapi, pinde. Feita da combinação de um cipó e de uma planta chamada, chacrona ou rainha, a ayahuasca sempre esteve vinculada a rituais religiosos. Antes mesmo da colonização européia, tribos incluíam o chá nas celebrações. Atualmente, ela é usada em cerca de 20 seitas, que reúnem 10 mil seguidores.

A mais conhecida é a do Santo Daime, fundada na década de 20 pelo agricultor Irineu Serra. Os adeptos das seitas reúnem-se duas vezes por mês em rituais em que bebem o chá, cantam hinos que misturam temas de catolicismo e espiritismo e dançam. Na União do Vegetal (UDV), criada na década de 50, a música com temas religiosos também está presente.

O psiquiatra da Unifesp, Lúcio Rodrigues, explica que a rainha contém dimetiltriptamina (DMT), substância com efeitos antidepressivos, geralmente decomposta por via oral. Desde 1961, a DMT, em, sua forma sintética, é banida para uso humano pelo International Narcotics Control Board, órgão da Organização das Nações Unidos (ONU). No Brasil, o uso do chá é permitido pelo Conselho Federal de Entorpecentes, mas com restrições. A ayahuasca somente é liberada para uso religioso. Crianças, mesmo que acompanhadas por pais, não devem ingerir o chá. (L.F.)




Fonte: Departamento de comunicação e Marketing Institucional _Universidade Federal de São Paulo.

 

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